Os fados de André

01 ● 04 ● 2010
In jornal Sineense nº67 (Abril/Maio 2010)


O fado sempre despertou talentos em Sines. André Baptista, cujo disco de estreia, "Um Fado Nasce", foi lançado em 2009, em tributo a Alberto Janes, é um dos mais jovens e promissores.

Houve um Magusto em Porto Covo que mudou a vida de André Baptista. Estamos em 2004 e, depois de anos a cantar para família e amigos, inspirado desde muito novo pelos discos de Amália, canta pela primeira vez acompanhado à viola e guitarra.

“A sala estava cheia por um público habituado a ouvir bom fado. Cantar pela primeira vez acompanhado foi um misto de emoções que não mais irei esquecer. Inicialmente estava muito nervoso, mas os músicos, o olhar do público e o calor dos aplausos deixaram-me tão à vontade que, depois do primeiro, continuei a cantar…”, recorda.

André Baptista nasceu em Lisboa, mas passou toda a infância e os primeiros anos de juventude em Sines. A História da Arte e a Conservação e Restauro, que estuda neste momento, são a base do seu projecto profissional, mas a música também ocupa uma posição importante.

Depois da noite mágica de Porto Covo, canta em diversas noites de fado e espectáculos, entre os quais o musical intitulado “Terra Pr’Amar”, no Centro de Artes de Sines, em 2008. Actua pela primeira vez em Lisboa no Centro de Congressos da FIL, seguindo-se o Castelo de S. Jorge, a Estufa Real do Jardim Botânico da Ajuda e o Convento do Beato.

A experiência de cantar para as comunidades portuguesas em Inglaterra, França, e Itália deixa-lhe memórias particularmente gratas.

“Senti a emoção e a nostalgia de quem está longe de Portugal, a sede do fado, a sede de sentir as raízes. Fui sempre muito bem recebido. Havia muito calor humano. Foi inesquecivelmente enriquecedor e gratificante”, diz.

O passo seguinte, e decisivo, na sua carreira surge com a oportunidade de gravar um disco, que concretiza em 2009.

“Gravar era já uma vontade que eu tinha há algum tempo. O fadista Gonçalo Salgueiro incentivou-me. A vontade deu lugar à concretização do desejo e assim, editado pela Companhia Nacional de Música – CNM e, com produção de Gonçalo Salgueiro, surge «Um Fado Nasce»”.

“Um Fado Nasce” homenageia um dos mais importantes compositores do repertório fadista, Alberto Janes, autor de clássicos como “Foi Deus”, “Vou Dar de Beber à Dor” e “Oiça Lá ó Senhor Vinho”.

“Alberto Janes foi muito importante na carreira de Amália Rodrigues. Os seus poemas foram os mais cantados e traduzidos para diversas línguas”, explica André.

“Este tributo a Alberto Janes surge por nunca, até ao momento, se ter reconhecido a devida importância musical e poética deste autor na cultura portuguesa, por ser em 2009 o centenário do seu nascimento e por se completar 10 anos de saudade de Amália Rodrigues. Houve o cuidado em alterar as interpretações de algumas das melodias adaptando-as à forma do meu cantar e do meu timbre de voz, respeitando sempre o autor.”

Com uma receptividade que considera “óptima”, o disco encontra-se à venda em Sines, na livraria a das artes. André Canta o seu repertório frequentemente em Lisboa, nas casas de fado, e em espectáculos pelo país. Quanto ao futuro, coloca-o nas mãos do público.

“O meu futuro no fado não está nas minhas mãos. Eu farei sempre o melhor que possa, mas o mais importante é que as pessoas gostem de mim e elas sim irão traçar o meu futuro no fado.”

A Câmara Municipal de Sines contribuiu para a edição de “Um Fado Nasce” com a aquisição de 200 exemplares, e André faz questão de expressar o seu agradecimento à autarquia pelo apoio dado ao projecto.